12 de fevereiro de 2015 à 14:33
RENDIMENTO DESPORTIVO
Descanse… pelo seu rendimento desportivo
No último momento de formação em que estive presente, o Clinic Internacional organizado pela Associação Desportiva de Vagos, enquanto ouvia as sábias palavras de Pablo Boada Romero sobre fatores que influenciam o rendimento desportivo, recordei os “picos” de forma que, enquanto atleta, conseguia atingir durante as pausas letivas, quer nos anos de estudante quer posteriormente nos anos em que fui Professor. Não que o processo de treino estivesse delineado para atingir bons resultados nesses momentos, mas tão somente porque….dormia mais e melhor! Conseguia dormir pelo menos nove horas por noite e, pontualmente, conseguia ainda dormir uma breve sesta a seguir ao almoço.
No mesmo Clinic, minutos depois, voltei a recordar esse aspeto quando Javier Sánchez chamou a atenção para o facto de, por vezes, analisarmos e interpretarmos o produto final do treino, ou seja o rendimento desportivo, apenas à luz dos meios e métodos de treino e das cargas aplicadas, “esquecendo” as variáveis do denominado treino invisível. No meu caso, não havia ajuste de cargas, não havia qualquer alteração significativa no treino, apenas o investimento numa dimensão do treino pela qual eu era o único responsável. Era incrível a diferença de rendimento, nos treinos e nas competições!
Hoje em dia, é consensual a ideia de que o sono é um aspeto essencial às funções metabólica, fisiológica, cognitiva e comportamental do ser humano. O seu estudo está por demais documentado na literatura e, sem querer ser muito exaustivo, enfatizo a ideia de que um dos principais efeitos da redução do número de horas de sono ou das perturbações ao nível do sono se verifica na regulação hormonal, através da redução da sensibilidade à insulina e tolerância à glucose, da redução das hormonas anabólicas (testosterona e hormona de crescimento) e do aumento da exposição ao cortisol (hormona catabólica).
Outra consequência que deveremos ter em consideração relaciona-se com a redução da capacidade do organismo para realizar diversas tarefas psicomotoras delineadas para avaliar a função neuromuscular, nomeadamente através do aumento dos tempos de reação, quer em tarefas simples quer em tarefas envolvendo tomadas de decisão, e a diminuição do estado de vigília e dos níveis de atenção. Adicionalmente, temos que ter em atenção que alterações ao nível do sono podem inclusivamente ter repercussões ao nível da percepção de dor, da resposta inflamatória e do estado do sistema imunitário.
Por fim, gostaria de referir que não podemos descurar a importância do sono na recuperação após o exercício e, consequente, na capacidade de rendimento posterior. A este propósito e analisando a tão badalada festa de aniversário de Cristiano Ronaldo poucas horas após a sua equipa ter sido derrotada pelo Atlético de Madrid, penso que o menos importante é a infeliz coincidência de a festa se realizar após um resultado negativo da equipa. Importante, para mim, é o facto de a festa ter sido planeada para um momento fundamental da recuperação dos jogadores após um jogo exigente, comprometendo, desde logo, a qualidade do trabalho a realizar na semana seguinte.
Em tempos tive um professor que me dizia, meio a sério, meio a brincar, que se tivesse que fazer uma noitada, que o fizesse na noite antes da competição e não na noite seguinte. Obviamente que a parte “meio a brincar” era a parte de não descansar antes de uma competição, algo inimaginável a partir de determinado nível competitivo e de comprometimento. Mas a parte “meio a sério” era bem evidente, dada a importância do descanso na recuperação pós exercício, fator determinante para a qualidade do trabalho a realizar nos dias seguintes, principalmente quando estamos abrangidos por um calendário competitivo exigente.
Assim, não pensem “apenas" em treinar, invistam no vosso descanso e na vossa recuperação. Será que as horas passadas no computador, no telemóvel e no tablet, ou as horas despendidas a colocar o apertado calendário de séries televisivas e de filmes em dia, entre outros ”vícios civilizacionais”, não deveriam ser investidas no descanso? Cabe a cada um decidir o quanto quer atingir os seus objetivos, o seu grau de comprometimento, tendo por base a importância do treino “invisível” neste longo e árduo caminho rumo ao sucesso.
Saudações desportivas,
Filipe Pedro
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